Sempre 'invejei' pessoas que dominam a arte da oratória. Pessoas eloquentes, desinibidas, de raciocínio rápido e grandes respostas na ponta da língua... Como se já tivessem tudo arquitetado em suas mentes, como se já soubessem cada ação do outro e para essa ação já houvesse uma reação à altura.
Morro de inveja de pessoas que sabem expressar seus sentimentos com clareza, são intensas, possuem armas escondidas para serem usadas na hora exata (essas pessoas sabem sempre quando é a hora exata), mantem-se firmes em suas decisões, mesmo quando são coagidas a mudar de lado. Tomam atitudes ousadas, possuem coragem para arriscar e são extremamente otimistas.
O teatro dos vampiros, chamado TV (como disse Renato Russo), é um bom exemplo disso. As pessoas são seguras, intensas, impulsivas, persuasivas, fazem belas declarações de amor do nada, discutem a relação como quem dá um "Bom dia", sorriem, choram, até as piadas seguem uma linha de raciocínio incrível. Não existe ninguém inseguro do outro lado da caixa de madeira.
Eu, mera telespectadora alienada, fico com meus velhos diálogos inconclusivos e minha incapacidade de olhar nos olhos quando algo sério está sendo tratado... "É...porque...aquilo que você disse...sabe? É justamente isso!". Toda essa "eloquência" seguida de olhares para o infinito ou para qualquer outra pessoa ou coisa que não seja a que estou mantendo a interação.
Esse conjunto de palavras e frases sem sentido adicionado ao olhar para o infinito, só me fazem sentir uma idiota incapaz de completar uma frase com nexo.
Por isso, visando mais aborrecimentos e sentimentos negativos por mim mesma, fujo desses diálogos como o diabo foge da cruz. Eles nos desgastam e nos obrigam a usar de toda a expressividade que não possuimos, na tentativa de parecermos maduros e inteligentes. Nos fazem ter que expressar coisas até então escondidas no fundo de nós mesmos e só reveladas ao amigo mais íntimo ou às vezes nem mesmo ao próprio travesseiro.
Sou defensora do "Direito de Inexpressão" como forma de sobrevivência. Isso nos ajudará a manter a auto-imagem resguardada de qualquer comentário a (des)respeito da visível falta de expressividade verbal. Palavra torta, melhor ficar calada.
O silêncio não vai nos trair. Pode ser que ele diga muita coisa, mas nunca será a confirmação que a palavra oferece, as palavras mentem, mas ainda assim apontam em uma direção. O silêncio deixa-nos suspensos no ar, com uma enorme interrogação bem no meio de nossas caras inexpressivas.