quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fezes do Mundo Moderno.

A sociedade atual vem sendo tomada por bactérias, vírus, protozoários e toda gama de microorganismos possíveis, que podem constituir o tão famoso excremento humano.
Mesclarei ao longo desse texto alguns tipos de fezes com que convivemos cotidianamente e com as quais nos acostumamos com o fedor.
O 1º tipo é caracterizado pelos programas de televisão, exibidos aos domingos, para o querido trabalhador que passa o dia descansando com a família; os matinais para as dedicadas donas de casa aprenderem um novo prato ou uma nova dica de beleza ou mesmo os da tarde direcionados a todos aqueles desocupados nesse horário (pobres almas). Todos eles possuem algo em comum, são igualmente horripilantes, não importa o horário.
"Ô louco meu!", é verdade, só louco mesmo para assistir ao senhor Fausto Silva, creio que nem os loucos seriam capazes de tal insanidade. Um programinha medíocre, encheção de linguiça, de tempo, de saco para aqueles 'bravos' que se submetem a tal tortura. Celebridades abrem suas vidinhas interessantes no "Arquivo Confidencial", emocionante! (Tô até com lágrimas nos olhos)... Um caldeirão de ingredientes para deixar o indivíduo devidamente sentado em seu sofá, docilizado e alienado.
"Gluglu" segue a mesma linha "encheção de saco". Muda de emissora, mas não muda a cara, nem o conteúdo (se é que um dia isso existiu, desconfio que não), as mesmas coisas inúteis de sempre, o mesmo sensacionalismo barato, a mesma falta de graça...
Os humorísticos atuais também são responsáveis por essa "toletização" do mundo moderno. Quem acha graça naquilo? Vamos e convenhamos que são uma merda mesmo, no sentido literal da palavra... Eles imploram para que você ache graça! E pasmem! Você não acha... Bem vindo ao clube! (Vejo que nem tudo está perdido).
Sensacionalismo, desgraça... Filmando um presunto ao meio-dia estirado no asfalto. E ainda perguntam para a mãe do "presunto": 'Como a senhora se sente em relação a isso?' ¬¬ O que eles esperam ouvir? 'Ah! Estou muito feliz com o cadáver de meu filho sendo exposto na TV com a câmera bem na cara dele'. ¬¬º
A 2ª vertente das Fezes é "dignamente" representada pela péssima música que conquista multidões. Bandas que cultuam: "mulher gostosa", "gaia" e "cachaça"... Ou mesmo algo do tipo..É CALYPSOOOO!!! (não resisti =X). O que me conforta é saber que ainda tem gente que sabe apreciar uma boa música.
Hoje há um culto ao supérfluo, ao efêmero, ao inútil, valores impostos por uma indústria cultural, onde a arte vira mercadoria como um único objetivo, o comercial. As mentes não querem mais pensar, não deixam que ela pense... É dado um único direito... "O direito de inexpressão", ou seja, fique calado e concorde com tudo. Toda essa demência poderia se contornada, caso o homem se interessasse mais por questões relacionadas à sua própria existência.
E para fechar com chave de ouro falsificado, falaremos das 'magníficas revistas científicas', vulgo Caras, Capricho, Tititi, Malu etc. Suas manchetes são "Como ganhar o gato em 20 passos", "Casamento de globais no Rio", "Como perder 5 kg em 1 semana"... Blá blá blá.
Comentário para Caras: uma revista cara, longa, cheia de fotos forjadamente espontâneas, apenas encontrada em consultórios médicos na sala de espera, possuindo como única finalidade informar ao proletariado o que as pessoas ricas e famosas fazem. Quero dar uma dica pra você que não possui uma grande fortuna, compre uma Tititi, faz o mesmo efeito. "Por apenas 0,99 centavos você adquire um punhado de 'cultura' inútil e totalmente dispensável", não é o máximo? Quem não tem Caras, se contenta com Tititi... Fazer o que? O mundo é injusto mesmo!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Teatro dos Vampiros

Em uma segunda-feira ensolarada acordo para ir à cerimônia de abertura de um Fórum Estadual de Política contra as Drogas. Um tema deveras interessante, sem sombra de dúvidas. Fui chamada para ser uma das relatoras do Fórum, junto com outros estudantes de jornalismo, uma grande oportunidade para meu futuro profissional, já que, precisarei vir com certa freqüência a lugares como este para exercer minha profissão, assim já vou me familiarizando com o ambiente.
Vejo circular pelo auditório alguns rostos conhecidos, outros nunca vistos, entre anônimos e “pessoas públicas”, para não dizer, “queridos políticos de nosso Estado”, o que soaria no mínimo pornográfico. Eles desfilam com seus ternos, elas com suas roupas de marcas e suas jóias igualmente “marcantes” e brilhantes, seus cabelos são incríveis, quase não humanos. Em contraste, o populacho, sentindo satisfação enorme em estar ali entre tanto brilho, dando sua contribuição imaterial para o Fórum (o sentimento é verdadeiro, do povo, claro).
Sorriem, sorriem e sorriem para todos... Alguns se abraçam, outros trocam apertos de mãos e uma gracinha qualquer. Alguns poucos conversam sobre drogas, alguns com um discurso inflamado, outros neutros, beirando a inutilidade.
Espero que eles não discutam estratégias para apenas recuperar as pessoas das drogas, mas sim modos de prevenir seu uso, modos de resolver as mazelas sociais, a falta de oportunidade, de dignidade e falta de condição psíquica que afeta a tanta gente e que impede que suas vidas ganhem sentido... Espero sinceramente que as autoridades lembrem-se disso.
Vejo todo este cenário como um Teatro dos Vampiros ou uma peça romana, onde Patrícios e Plebeus coexistem pacificamente, a sorrir, todos de mãos dadas numa grande ciranda solidária. Posso estar percebendo equivocadamente, mas isso é o máximo que meus olhos conseguem ver... Pessoas cumprindo seus papéis sociais determinados, sem paixão em suas vozes, discursos frágeis, sem objetivo... Preocupados em mostrar seu apoio ao governo e não em resolver o problema em si, não enxergando o verdadeiro sentido daquele projeto... Mais uma vez repito, posso estar enganada e essas pessoas possuam apenas problemas de oratória e estejam de fato se importando com tudo aquilo, apenas não sabem transmitir seus reais sentimentos, me arrisco até a dizer que elas podem ser pessoas brilhantes mentalmente e não só nas jóias... Mas claro isso apenas uma remota possibilidade.
O que é difícil de aturar são esses pseudo-políticos que se acham alguma coisa, recusando-se a dar entrevistas porque é mais importante falar no celular, abraçar o “colega de profissão” ou mesmo exibir sua Louis- Vutton.
Infelizmente, a mídia depende de seus discursos politicamente corretos e no fundo iguais. Como se houvesse um livro onde eles lessem seus discursos e vomitassem as palavras lá escritas.
Acabaram de anunciar a chegada do vice-governador. Enquanto eu estou aqui escrevendo sobre todos eles, o vice brilha sob os holofotes com o glamour de uma celebridade. Ainda bem que não foi o governador que chegou, porque eu definitivamente não gosto dele e ele faz escolhas políticas equivocadas... O vice-governador disse que ele não compareceu à cerimônia, pois estava com virose... Alguém grita do meio da platéia: “É suína!” – o que provoca risos por todo o salão, muitos rostos sérios e impassíveis deram o ar da graça nesse momento.
E o que eu estava fazendo ali? Já disse! Criando estômago para minha futura profissão, pois além de talento é preciso estômago e ausência de asco para agüentar a todo esse cenário decadente e cheio de vampiros sugadores de população, a dançar diante de meus olhos.
Tenho que demonstrar no mínimo uma cara simpática, mas porque eu não consigo? Ou por via das dúvidas, esconder minha indignação e mostrar-me indiferente... O que não é nada difícil para mim.
Uma vereadora me cumprimentou como se me conhecesse, mas ela não dá a mínima para mim, assim como eu não dou a mínima para ela. Faz parte do show dela, eu entendo que atrizes são assim mesmo, quando estão “gravando” tem que ser o que não são... Ela socializou comigo por conveniência, o que não foi nada conveniente para ela, já que seu gesto rendeu umas linhas aqui nesse texto.
É conveniente ser simpática (mas não é conveniente ser falsa). Eu não ligo para conveniências e simpatias e me recuso a bater palmas a quem quer que seja... Eles não merecem que uma palma de minha mão toque na outra... A cada “nobre” político que se apresenta (chama-los de nobres é no mínimo paradoxal), retomando o assunto... A cada “não-nobre” político que se apresenta, as palmas vão ficando cada vez mais escassas e com o tempo são quase inexistentes... Sinal que a sabedoria apareceu na Terra como um corvo atraído pelo cheiro da carniça, parafraseando Friedrich Nietzsche.
Continua, breve: "Teatro dos Vampiros In Loco"