domingo, 24 de julho de 2011

Doubt.

Era como se fossem Bentinho e Capitu. Só que ela era o Bentinho e ele a Capitu. A história deles não envolvia melhor amigo, filhos, nem prantos desesperados no velório. O único traço disso tudo que se assemelha ao romance Machadiano é a dúvida. Eterna e cruel dúvida.
Ela não tinha mais que meros indícios e desconfianças que no fim não tinham validade alguma se quisesse confrontá-lo, fazendo-o confessar a verdade. Ele tinha "olhos de cigano oblíquo e dissimulado". Ele é do tipo de pessoa de quem nunca se espera esse tipo de coisa. Ele é doce, gentil e carinhoso com ela, mas com uma falha de caráter... É capaz de desvirtuar qualquer discussão e colocá-la à seu favor, quando só ele é o culpado. Ele tem culpa, mas a faz pedir desculpas por ter "procurado" conhecer seu erro.
Juntos parecem um casal feliz, mas lá no fundo ela não acredita mais nele. Quanto a ele, bem, não há como dizer ao certo, ele não deve gostar dela tanto quanto diz. Ele já provou desses amores loucos que se tem pelo menos uma vez na vida. Ela também já provou, mas há uma linha tênue entre os dois. Ela conseguiu se livrar, ele não. Talvez ela esteja sendo mais uma dessas tentativas que todo ser humano faz, em busca do esquecimento. Ele jura que ela é a única. Ela nunca saberá se é verdade, tão fácil prometer e mais fácil ainda não cumprir. Talvez só o tempo prove quem é quem.
Ela não se sente um Bentinho da vida por uma mera questão de ciúmes de seu amado pensando em outra pessoa, vai mais além... Vai ao fundo, tocando suas piores memórias, memórias de quem sabe exatamente o que é tudo aquilo e onde vai terminar. Medo é o que ela sente, medo de estar sendo manipulada por ele e pelo "objeto de seu desejo". Naturalmente, ela descobrirá algo quando menos esperar, quando menos quiser ou precisar, exatamente como da primeira vez, no momento mais inoportuno e cruel, onde a dor será maior, onde a dor assumirá tamanhos desproporcionais, onde a dúvida, substituída pela certeza, a consumirá feito um monstro.