"Felicidade acima de tudo", "Sorria sempre", "Alegria alegria", quem me conhece sabe que esses nunca foram meus lemas de vida. Sempre pendi pro lado obscuro da força. Triste, deprimida, amargurada, mas pessimista jamais! Contraditório ser tudo isso sem ter o básico de um bom e velho ser humano deprimido: o pessimismo!
Mesmo afogada na lama eu sabia que algo ainda poderia dar certo, lá no fundo eu via uma luz, estranhamente eu via. Quando as raras forças apareciam, eu lutava como se não houvesse amanhã.
Talvez essa ausência de pessimismo tenha me feito chegar onde cheguei. E não, isso não é nem de perto uma comemoração.
A ausência do pessimismo não me deixou enxergar o óbvio, você era um erro. Aquele tipo de erro que só seres humanos amorosamente cegos conseguem cometer. Aquele tipo de erro que por mais errado que esteja, insistimos em transformar em acerto. Dando sempre um jeito de encontrar flores em meio aos escombros.
Como ver em você um erro, se eu só me dispunha a enxergar suas parcas tentativas de acerto? Seus míseros grãos de qualquer sentimento, seus escassos rompantes de sinceridade, sua amargura.
Começo a pensar que tudo o que existia em nós era compaixão. Eu via sua amargura e você a minha e a gente tentava se aliviar, eu te ajudei muito mais, enquanto minha amargura só crescia.
Não, eu não tinha pena de você, mas eu sei que eu precisava tirar aquela névoa da sua vida.
Hoje sei, que aquela sua amargura, na verdade, não existia. Não havia nada de dor e sofrimento ali, só um profundo desejo de se fazer de vítima. Eu era uma vítima também, daqueles sentimentos me fiz refém. Então eu vejo, não com prazer, que você repetiu tanto que era infeliz e amargurado sem ser, que agora não consegue se mover de tanta dor. Repito, não me sinto vingada, não me sinto feliz, mas não posso interferir no caminho que você trilhou. Antes eu achava mais que minha obrigação te salvar do caos, hoje não mais.
Amargurada fui eu com meu otimismo, amargurada fui eu, por anos insistir, lutar, cair e me levantar sempre indo ao encontro da velha frustração.