terça-feira, 15 de maio de 2012

Perecível


Segundo o dicionário, perecível é tudo aquilo sujeito a alterar-se, a extinguir-se. Os alimentos são um bom exemplo de produtos perecíveis. Se não conservados em condições ideais podem estragar pela ação dos microorganismos que os decompõem. 

Assim como os alimentos, pode ser o amor. Se não cuidado, se não sob condições favoráveis pode se decompor e os desavisados que o consumirem, podem sofrer intoxicação, ou no caso do amor, decepção. Aquele sentimento incontrolável que surge quando comemos uma coxinha estragada, ou no caso, quando percebemos que a pessoa que está ao nosso lado é esse alimento estragado, só que ai já é tarde, pois o consumimos por inteiro e boa parte dele já está em nós. Não há mais como expulsar, resta-nos sofrer as consequências, esperar que tudo nos corroa, que tudo nos doa, para enfim alcançar a paz. 

Talvez assim mesmo seja o amor. Difícil conservar aquilo que se pode estragar facilmente se deixado de lado, sem conserva e cuidado. Talvez assim mesmo seja o amor. O amor que é fome, o amor que é alimento, o amor que pode ser veneno para quem consumi-lo depois que estraga...

Os aditivos alimentares, por exemplo, são substâncias adicionadas aos alimentos com diversas finalidades, como: conservar, realçar o sabor, dar cor, melhorar o aroma e adoçar. Talvez disso seja feito o amor que tem a função de tornar tudo mais doce e alegre. Se não cumpre a função, do que adianta mesmo amar? O amor é o imperecível, o infinito. Nos mazelamos por conta do perecível, choramos pelo que não tem solução com lágrimas, esse não é o caminho se quisermos encontrar o imperecível. 

Encontrar um outro caminho, outra sintonia, outro canal, parece-me mais válido. Quem sabe nele não esteja escondido o imperecível? Esse imperecível que é a metamorfose do perecível regados com sentimentos de eternidade. 




"Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se" (Hilda Hilst)





sábado, 5 de maio de 2012

No dia em que tudo parou

 Há dias venho sonhado com o que não existe. Mergulhada em uma atmosfera onírica, me desligo do mundo ao redor. Logo eu, tão racional para certas questões, estou aqui idealizando e esperando um sonho acontecer. A perfeição que existe dentro de mim, enfim se tornar real. 

     
Há dias, tudo parou. Fiquei presa em um momento passado, no alto de um edifício olhando as luzes da cidade passarem. Ouço uma música me chamar, ouço gargalhadas ao redor, ouço o vento, mas é como se eu estivesse paralisada diante daquele momento, como se ali eu tivesse encontrado uma espécie de felicidade, como se diante de todos ali, eu me sentisse maior, mais viva e brilhante.

Se tudo em mim corria, naquele dia parou. Desacelerei a mente e o coração, acalmei a alma que jogou fora tudo o que era sujo e se vestiu de nova partindo ao encontro do sonho. Ele não era mais uma imagem difusa e sem sentido, era o real, estava ali, bem diante de mim, esperando que eu o levasse comigo.

Já dizia Freud em sua teoria sobre almas gêmeas: Existem muitas pessoas das quais você pode gostar, se apaixonar, mas reconhecerás tua alma gêmea quando vires um ponte de luz bem acima do ombro da pessoa, ai sim, será a prova de que é mesmo ela... Eu vi tantos pontos de luz, na pessoa e ao redor, o que será que isso quer dizer?

Eu não precisaria de teorias para explicar o que aconteceu, bastava lembrar do sábio conselho que minha bisavó me deu há 8 anos e que nunca mais esqueci: Esteja junto de alguém com quem você goste de conversar, que seja de agradável companhia, alguém que você saiba que vai te apoiar, te confortar e que faça de tudo para não te ver chorar. Um dia, você e ele vão ficar velhos, não terão mais corpos bonitos e saudáveis, vai sobrar dores e doenças, mas se você tiver ao lado do amor da sua vida, isso vai se tornar bem mais suportável, você vai sentir até alegria em viver". Lembro-me bem como eram felizes, mesmo depois de 65 anos juntos, se olhavam todos os dias como se tivessem acabado de se apaixonar.