Segundo o dicionário, perecível é tudo aquilo sujeito a alterar-se, a extinguir-se. Os alimentos são um bom exemplo de produtos perecíveis. Se não conservados em condições ideais podem estragar pela ação dos microorganismos que os decompõem.
Assim como os alimentos, pode ser o amor. Se não cuidado, se não sob condições favoráveis pode se decompor e os desavisados que o consumirem, podem sofrer intoxicação, ou no caso do amor, decepção. Aquele sentimento incontrolável que surge quando comemos uma coxinha estragada, ou no caso, quando percebemos que a pessoa que está ao nosso lado é esse alimento estragado, só que ai já é tarde, pois o consumimos por inteiro e boa parte dele já está em nós. Não há mais como expulsar, resta-nos sofrer as consequências, esperar que tudo nos corroa, que tudo nos doa, para enfim alcançar a paz.
Talvez assim mesmo seja o amor. Difícil conservar aquilo que se pode estragar facilmente se deixado de lado, sem conserva e cuidado. Talvez assim mesmo seja o amor. O amor que é fome, o amor que é alimento, o amor que pode ser veneno para quem consumi-lo depois que estraga...
Os aditivos alimentares, por exemplo, são substâncias adicionadas aos alimentos com diversas finalidades, como: conservar, realçar o sabor, dar cor, melhorar o aroma e adoçar. Talvez disso seja feito o amor que tem a função de tornar tudo mais doce e alegre. Se não cumpre a função, do que adianta mesmo amar? O amor é o imperecível, o infinito. Nos mazelamos por conta do perecível, choramos pelo que não tem solução com lágrimas, esse não é o caminho se quisermos encontrar o imperecível.
Encontrar um outro caminho, outra sintonia, outro canal, parece-me mais válido. Quem sabe nele não esteja escondido o imperecível? Esse imperecível que é a metamorfose do perecível regados com sentimentos de eternidade.
"Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se" (Hilda Hilst)