domingo, 21 de abril de 2013

Melancolia




"Dissestes que se tua voz 
Tivesse força igual 
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria 
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira..."
(Legião Urbana - Há Tempos)


No período da Renascença e do Romantismo, a melancolia era considerada uma doença bem-vinda, uma experiência que enriquecia a alma. Já Sigmund Freud, em seus estudos sobre o superego, descobriu que a melancolia se assemelhava ao processo de luto, sem necessariamente haver uma perda. 

...

E é o que me resta. Lamentar, chorar pelo leite derramando. Perceber que não é do jeito que se imagina, perceber que estou aquém do imaginado. Perceber que a chance foi embora, que a porta se fechou e eu fiquei presa nesse labirinto. Sentada com minhas lágrimas, cigarros e lamentos. 

Tristeza é saudável para que olhemos para dentro, já dizia alguém que não devia imaginar o quanto dói. O quanto vale para caber nos padrões? Quanto de mim terei que amputar? O quanto de choro terei que engolir? Quantas máscaras terei que usar ao longo da vida? Quantas coisas deixarei de viver? Quantas renúncias? Quanta felicidade terei que forjar?

Vou vomitar palavras, na tentativa de fazer meu coração sair junto, expulsando essa melancolia que pouco tem de criadora. Palavras que não controlo, não conduzo e não reconheço. Palavras indigestas e que se guardadas podem virar veneno. Quem sabe todo esse silêncio me sufoque, me fazendo alcançar uma daquelas mortes que temos em vida.

Não precisa se preocupar, estou bem assim. Esse sorriso amarelo até me convém. Não me venha com sentimentos redentores, nem me fale sobre a felicidade, por favor. 

Dizem que isso passa, que o tal do "impulso vital" vai me fazer seguir, vai me empurrar para uma nova estrada, me fazendo correr outra vez. Correr é mais fácil quando se tem onde chegar. 

Ver a melancolia como um sentimento rico, até que eu gostaria, mas a vida é um pouco mais cruel e só me resta ouvir: "Hush baby, baby, baby, no, no, no, don't you cry, don't you cry..." . Desculpe Janis, mas hoje não dá. 


                             



quinta-feira, 4 de abril de 2013

Bandolim

Como fosse um par que 
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse 
Ao som dos bandolins...



Não que eu me importe com despedidas. Tampouco com verdades amargas ou mentiras sinceras. Não que dos meus olhos brotem lágrimas por você, mas essa valsa que agora ouço é particularmente triste. 

Não me resta nenhum desespero, nenhuma vontade suicida. Apenas a saudade, daquelas que dilaceram o peito, daquelas que cortam a alma. Não penso em mais nada, além de anestesiar minha solidão. 

Como fosse um lar
Seu corpo à valsa triste
Iluminava e à noite
Caminhava assim...



Ouço a valsa triste e rodopio sozinha no salão. Tropeço no meu vestido e caio, em prantos, exausta daquele amor que nunca dedicastes a mim.

Você saiu por aquela porta sem saber o quão impróprio foi seu abandono, o quanto de lágrimas deixou por aqui, o quanto de abraços não dados. Você seguiu e eu fiquei inerte, presa à sua imagem, presa à impossibilidade, presa à meus lamentos, presa à uma projeção. Nem de longe estou sendo pessimista.

Choro pelos acertos não comemorados, pelos erros cometidos, pelo valor não dado, pela renúncia não recompensada, pelo amor perdido, pelo respeito, esse item que esquecemos em cima de estante. Pelas minhas tentativas de dizer, com palavras tortas e incompletas, que você me fazia dançar. 

Como um par, que agora é ímpar, eu choro ouvindo a melodia do bandolim, que rasga cada pedaço desse coração vagabundo. 

Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos bandolins...








Oswaldo Montenego - Bandolins