terça-feira, 1 de setembro de 2009

Teatro dos Vampiros

Em uma segunda-feira ensolarada acordo para ir à cerimônia de abertura de um Fórum Estadual de Política contra as Drogas. Um tema deveras interessante, sem sombra de dúvidas. Fui chamada para ser uma das relatoras do Fórum, junto com outros estudantes de jornalismo, uma grande oportunidade para meu futuro profissional, já que, precisarei vir com certa freqüência a lugares como este para exercer minha profissão, assim já vou me familiarizando com o ambiente.
Vejo circular pelo auditório alguns rostos conhecidos, outros nunca vistos, entre anônimos e “pessoas públicas”, para não dizer, “queridos políticos de nosso Estado”, o que soaria no mínimo pornográfico. Eles desfilam com seus ternos, elas com suas roupas de marcas e suas jóias igualmente “marcantes” e brilhantes, seus cabelos são incríveis, quase não humanos. Em contraste, o populacho, sentindo satisfação enorme em estar ali entre tanto brilho, dando sua contribuição imaterial para o Fórum (o sentimento é verdadeiro, do povo, claro).
Sorriem, sorriem e sorriem para todos... Alguns se abraçam, outros trocam apertos de mãos e uma gracinha qualquer. Alguns poucos conversam sobre drogas, alguns com um discurso inflamado, outros neutros, beirando a inutilidade.
Espero que eles não discutam estratégias para apenas recuperar as pessoas das drogas, mas sim modos de prevenir seu uso, modos de resolver as mazelas sociais, a falta de oportunidade, de dignidade e falta de condição psíquica que afeta a tanta gente e que impede que suas vidas ganhem sentido... Espero sinceramente que as autoridades lembrem-se disso.
Vejo todo este cenário como um Teatro dos Vampiros ou uma peça romana, onde Patrícios e Plebeus coexistem pacificamente, a sorrir, todos de mãos dadas numa grande ciranda solidária. Posso estar percebendo equivocadamente, mas isso é o máximo que meus olhos conseguem ver... Pessoas cumprindo seus papéis sociais determinados, sem paixão em suas vozes, discursos frágeis, sem objetivo... Preocupados em mostrar seu apoio ao governo e não em resolver o problema em si, não enxergando o verdadeiro sentido daquele projeto... Mais uma vez repito, posso estar enganada e essas pessoas possuam apenas problemas de oratória e estejam de fato se importando com tudo aquilo, apenas não sabem transmitir seus reais sentimentos, me arrisco até a dizer que elas podem ser pessoas brilhantes mentalmente e não só nas jóias... Mas claro isso apenas uma remota possibilidade.
O que é difícil de aturar são esses pseudo-políticos que se acham alguma coisa, recusando-se a dar entrevistas porque é mais importante falar no celular, abraçar o “colega de profissão” ou mesmo exibir sua Louis- Vutton.
Infelizmente, a mídia depende de seus discursos politicamente corretos e no fundo iguais. Como se houvesse um livro onde eles lessem seus discursos e vomitassem as palavras lá escritas.
Acabaram de anunciar a chegada do vice-governador. Enquanto eu estou aqui escrevendo sobre todos eles, o vice brilha sob os holofotes com o glamour de uma celebridade. Ainda bem que não foi o governador que chegou, porque eu definitivamente não gosto dele e ele faz escolhas políticas equivocadas... O vice-governador disse que ele não compareceu à cerimônia, pois estava com virose... Alguém grita do meio da platéia: “É suína!” – o que provoca risos por todo o salão, muitos rostos sérios e impassíveis deram o ar da graça nesse momento.
E o que eu estava fazendo ali? Já disse! Criando estômago para minha futura profissão, pois além de talento é preciso estômago e ausência de asco para agüentar a todo esse cenário decadente e cheio de vampiros sugadores de população, a dançar diante de meus olhos.
Tenho que demonstrar no mínimo uma cara simpática, mas porque eu não consigo? Ou por via das dúvidas, esconder minha indignação e mostrar-me indiferente... O que não é nada difícil para mim.
Uma vereadora me cumprimentou como se me conhecesse, mas ela não dá a mínima para mim, assim como eu não dou a mínima para ela. Faz parte do show dela, eu entendo que atrizes são assim mesmo, quando estão “gravando” tem que ser o que não são... Ela socializou comigo por conveniência, o que não foi nada conveniente para ela, já que seu gesto rendeu umas linhas aqui nesse texto.
É conveniente ser simpática (mas não é conveniente ser falsa). Eu não ligo para conveniências e simpatias e me recuso a bater palmas a quem quer que seja... Eles não merecem que uma palma de minha mão toque na outra... A cada “nobre” político que se apresenta (chama-los de nobres é no mínimo paradoxal), retomando o assunto... A cada “não-nobre” político que se apresenta, as palmas vão ficando cada vez mais escassas e com o tempo são quase inexistentes... Sinal que a sabedoria apareceu na Terra como um corvo atraído pelo cheiro da carniça, parafraseando Friedrich Nietzsche.
Continua, breve: "Teatro dos Vampiros In Loco"

6 comentários:

  1. Nunca li tanto veneno junto. Vou ter que ouvir música para relaxar depois desse post. Ficou bom Cécill!!!

    Abraço.

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  2. Caramba...
    Deve ter se formado uma poça de veneno embaixo do pc...
    ADOREI!!!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Deu pra ver que você adora nossas personalidades...
    kkk
    Muito bom o post, Cecyl...
    Ou seria "menina veneno"? (isso veio do fundo do baú!! =D)

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  3. Finalmente postou Teatro dos Vampiros. Esperando ansiosamente por Teatro dos Vampiros In Loco.

    Bjoo :*

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  4. kkkkk... ficou ótimoo Cecill, o veneno ta prefeitamente proporcional a situação! :*

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  5. Eu já tive tantas crises assim que aprendi que escrever, até agora, é o melhor remédio.

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  6. Simpatia é com você mesmo, não é? Quero mais, esse texto ficou ótimo...

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