Estava sentada à mesa de jantar com minha mãe. Olhei para o prato de comida e soltei um sonoro suspiro de dor. Imediatamente ela perguntou:
- Onde dói? Seu corpo tá doendo por conta dos exercícios físicos? - perguntou preocupada
- Não mãe! Antes fosse! Meu físico está ótimo, a dor que eu sinto é na alma.
O silêncio se instalou e logo tive uma epifania:
... Qual a razão para toda essa falta de fé, tristeza, desânimo? Por que essa medonha companheira, chamada dor, insiste em viver na minha cola? Todos tentam me dar os diagnósticos mais variados:
Os psicólogos acreditam que a raiz dos meus problemas está na minha falta de relação com meu pai. Nas consultas, quando me perguntam por minha família e digo que meus pais são separados, todos, sem excessão, atribuem minha personalidade de hoje a esse fato que segundo eles, marcou profundamente minha infância. Não tenho certeza se foi esse o motivo que desencadeou toda a crise, pois a minha infância foi ótima, mesmo com esse fato do qual eu não tinha plena consciência. Na minha adolescência é que talvez ele tenha ganho formas mais definidas, quem sabe só agora o inconsciente começou a tomar consciência do fato.
Todos os especialistas sentenciam: Sua solução é retomar laços com ele, procure-o! Mal sabem eles que ir atrás e receber de volta a indiferença é pior do que permanecer nessa inércia.
Já os médicos dizem que meu problema é depressão, causada não por relações familiares interrompidas, mas pela pressão do dia-a-dia, os meus neurotransmissores não estão sabendo lidar com a carga que é virar adulta e assumir a própria vida. Já me receitaram antidepressivos, ansiolíticos, mas nenhum deles me fez sentir melhor. Me recomendaram o relaxamento e a desaceleração da vida. Quando eles falam parece tão fácil. Para isso acontecer eu tenho que me livrar primeiro da inércia e do desânimo, isso eles não me ensinam. Como chegar ao fim que eles querem sem ter os meios?
Os religiosos da família dizem que meu problema é falta de missa e de oração. Dizem que se eu parasse mais de me preocupar com os "mistérios do que não pode ser entendido", eu me sentiria melhor. Já disseram que racionalidade demais não me fará entrar em contato com as divindades. Porém, não dá pra não pensar, não dá pra esquecer tudo o que está acontecendo e esperar que as coisas se resolvam, fingindo que minha alma está em paz quando tudo ao meu redor está fora do lugar.
Um quarto diagnóstico diz respeito à minha mediunidade e ao fato de eu estar em contato com o plano físico e espiritual, simultaneamente. O que acaba me deixando vulnerável a influências e trocas de energia com outros seres supostamente não tão evoluídos. Segundo os espíritas, eu deveria desenvolver e educar minha mediunidade, talvez assim eu me sentisse melhor e mais equilibrada.
E agora, José? Em meio a tantos diagnósticos e previsões, qual será a solução? Infância? Pressão da vida adulta? Falta de reza ou espiritualidade desequilibrada? Eu mesma já desisti de apostar no que quer que fosse... Quem sabe existe uma quinta causa/problema/solução/diagnóstico e que ninguém ainda percebeu. Isso é tão confuso quanto um labirinto, talvez eu tenha que ficar presa a isso por mais um bom tempo...
Entre silêncios e garfadas fui interrompida:
- Tá calada, tá tudo bem com você? - perguntou minha mãe
- Ah sim! Só estava tentando descobrir o quinto diagnóstico.
- Quinto, o que? - perguntou confusa
- Nada não! Termine seu jantar, vou ficar bem! Afinal é sempre isso que todos nós queremos, mesmo que uns tenham vocação para a felicidade e outros não.
Pois é, aí vai o 5º diagnóstico, toda essa angústia que "você" sente pode ser tudo isso que os especialistas falaram, sim os seus familiares também são especialistas. Mas pra mim o que lhe falta é diversão, não a diversão de sair pra beber ou de passar o dia no Eco Park com a família e sim aquela diversão com os amigos, onde se ri até doer na alma e se esquece de todos os problemas, se passa toda a angústia e você fica tão feliz que quando você pensa que acabou chega aquela nostalgia e lhe traz mais um pouquinho de felicidade. E comentando aqui no seu post eu me recordei de uma música do Oswaldo Montenegro; A Lista, o comecinho é assim:
ResponderExcluir"Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais..."
Parabéns pelo post. muito massa =)
Bem, está bonito... Você, como sempre escreve impecavelmente. Mas não gosto de ver vc com esse tipo de dor, eu amo vc e não quero que sinta infelicidade de tipo nenhum.
ResponderExcluirMas está lindo amor, triste, mas lindo.
Te amo!
Concordo com o Erique.
ResponderExcluirE tbm faço minhas as palavras do Nathan!
Fica pra baixo não, Cecil!
O interessante a respeito da dor é que uma hora ela passa...
Um abração!