Ninguém assistiu ao enterro de minha última esperança. Aquela que eu guardava lá no fundo como um tesouro. Eu quis que ela surgisse em mim como o sol em uma manhã sem nuvens, quis que ela fosse minha razão, que guiasse meus atos, me trouxesse ponderação e lógica. E hoje o que tenho? Ingratidão? Indiferença?
A esperança de que ela fosse voltar não existe mais. Serão assim as derradeiras coisas da vida? Irão silenciosas, sem que ouçamos seus passos e nos apercebamos de sua ausência? A falta e a mágoa vêm quando a esperança se vai. Quando o que é rotina, quando o que é compromisso se torna raro e depois some, como se nunca tivesse existido. Quanto ao vazio que fica, chega um momento que nem ele incomoda mais.
Há lágrimas, há dor, há orgulho. Como dizia Augusto dos Anjos: "A mão que afaga é a mesma que apedreja", uma espécie de dualidade natural da vida. Ou nem tão natural em certos casos.
Demasiados erros, tentativas de acerto, recomeços, abandonos, estou tentando acertar, te parece retrocesso? Aprendi com você a lutar, a ter coragem e hoje a primeira alternativa pra você é desistir em nome de uma felicidade futura que nem sei se existe. Quem além de mim saberá o melhor? Em que outro peito bate esse coração que aqui dentro guardo?
Você me ensinou a ter sonhos e não me importar com ninguém. Hoje vivo prisioneira de uma necessidade de aprovação insana, inclusive sua.
O que é melhor? Ser hipócrita ou fraco? Fraco, leia-se: não tomar a atitude mais redentora aos olhos dos outros, mesmo me quebrando por dentro. Hipócrita, leia-se: dizer como devo agir, se você não faz igual e muito menos acredita no que me aconselha.
Que mal eu fiz afinal? Mereço mesmo todas essas pedras? Esses olhares tortos? Essas críticas? Sim, eu sou forte, não vou desmoronar agora, o que tinha que cair já caiu, o que eu tinha que perder, já perdi.
Posso não ser tão boa quanto pareço, ou o melhor exemplo da coerência, mas as lágrimas que chorei pra você eram verdadeiras, assim como os sorrisos que dou hoje são verdadeiros. Posso não ter sido forte como você esperava, posso ter caído em tentação, ter insistido no meu "fracasso", posso até gostar do ar que a "idiotice" me proporciona, mas eu nunca deixei de ser eu, aquela mesma que você conheceu há anos, a que aos seus olhos sempre foi bipolar, estranha, indecisa, inconsequente e que dá passos largos rumo à infelicidade.
Felicidade é uma coisa relativa, não quero ser feliz só porque tenho que ser feliz, quero ser quando realmente sentir que posso, que simplesmente sou. Felicidade é um pouco de aceitação, amor-próprio e acima de tudo sinceridade com os sentimentos. Se agora, mais que nunca, de todo o coração, eu estou sendo sincera, o que custa você brindar comigo? Não concordar é um direito seu, mas antes da rejeição que você impôs, existia o incondicional e o significado da palavra é outro, bem diferente desse que você tá me fazendo viver.