domingo, 20 de janeiro de 2013

Esperas...

Lá vem ele na esquina, apoiado em seu corpo magro. Nossos sorrisos idênticos, maldita genética. Ele me abraça e não há troca de energia, ele me pergunta se eu tô bem e não há sinceridade em sua voz.

Alguém me diz: Pede a bênção! Eu olho como se aquele fosse o pedido mais absurdo do mundo. Insistem, melhor não comprar briga, tô sem energias para isso, peço logo a bênção...
"Deus te abençoe, minha filha!"

Ok, ritual cumprido, posso me retirar.

- E ai, como você está? Se recuperando? - ele continua com o ritual.

- Sim,claro, todo dia um pouco mais - tentando ser educada.

- Que bom, queria te ver mais, mas ando tão ocupado...

- Tudo bem! (Como se àquela altura eu ainda fosse me importar).

O que mais eu vou exigir? Ele não teve tempo por 23 anos e a única coisa que eu quero é que continue distante, não me agrada uma aproximação, ainda mais porque ela veio em condições adversas. Normalmente, ele estaria distante e sem dar notícias por meses, então por que esse interesse súbito? Pensasse em engajamento, participação e o escambau antes, né? Agora não desce, amor não se empurra goela abaixo).

- Melhor eu arrumar algo para beber, com licença... (por favor, isso tá muito constrangedor, preciso sair daqui)

Ele concorda balançando a cabeça.

Lá pelas tantas, eu sóbria e ele trocando as pernas, voz enrolada e aquela sinceridade mortal dos bêbados:

- Te desejo boa sorte, que fique tudo bem, viu? Vou ver se essa semana te visito, mas agora tenho que ir.

- Ok, até.

A próxima semana não chegou. Como tantas outras promessas e dias de sol que ele disse que me levaria para ver. Maldita genética, maldito hiato.

Em um encontro casual, no meio da rua, numa esquina, com sorriso amarelo, com desculpas esfarrapadas de falta de tempo, um abraço estranho e um tapinha nas costas, denunciando um companheirismo que não existe, foi assim que nos encontramos e que passamos um bom tempo juntos, sob o sol de meio-dia. Nada mais que dois minutos, foi o tempo que levamos para nos despedir, depois de longas esperas.




2 comentários:

  1. Oláá, tudo bem?

    Belíssimo post!

    Passei pra apreciar um pouquinho das suas ideias e do seu cantinho =D
    E pra deixar um 'oi' também!

    Espero que você tenha uma ótima semana, e que tenha dias maravilhosos.

    Um grande beijo

    Inté mais

    ;**

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  2. Que lindo, Ceciiiill! Não sei por que, mas os seus textos mais bonitos são os que têm essa temática, sabia? É uma amargura tão crua e ao mesmo tempo suave... Eu adoro isso em você!

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