quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Back to black

Eu não conseguia parar de pensar no dia que havia cruzado com aqueles olhos ela última vez. Lembrava daquele dia. Era uma manhã de julho. Eu esperava o ônibus naquela praça onde costumávamos nos encontrar.


Em silêncio, represei todas as palavras. Engoli as mágoas que queria vomitar. Agora estou regurgitando. 

Pra que negar mais? Se até as paredes sabem que nunca te esqueci. Se eu fosse escrever nossa história, ela não caberia em livros. Nada que possa ser transcrito, nada que as palavras saibam rimar. Elas estão suspensas no ar. Calar sobre nós seria como morrer. Por isso eu grito, há direito ao grito. É preciso libertar o avesso, a metade, a nossa não-história.

Não é só tristeza, é também saudade. É lágrima não chorada, é pranto comedido, é amor mal amado, é o terror nos olhos de quem fica.

Eu nunca te pedi mais que amor.  O amor profundo, o amor que salva. Nunca te pedi mais que uns dias de sol, umas noites de chuva debaixo das cobertas. Nada mais que sorrisos sinceros e um abraço apertado quando a dor é maior.

Você nunca foi nada menos que meu maior amor. Só por você eu quis ser mais, com quem eu quis ter todas aquelas coisas para as quais nunca dei alguma importância.  Quis juntar o teu passo ao meu, as tuas pegadas as minhas, o nosso caminho poderia enfim existir, poderíamos ter uma estrada só nossa.

Meu coração bate nesse descompasso e a vida é menor quando você não está aqui. Me sinto como ainda faltasse uma parte, que sei que não virá me completar. Afinal, você nunca veio, não para ficar.

Sempre foi dessa maneira incompleta e efêmera. Você sempre ia embora silenciosamente, sem olhar pra traz e eu ficava na noite escura, esperado você voltar.

E você voltava, sempre voltava. Mesmo que eu já estivesse me acostumando com sua ausência. Parece um prazer consciente. Esse de me fazer sofrer. Parece que você gosta de me ver assim, sozinha pelos cantos, chorando as lágrimas de toda a dor. Eu deveria me acostumar.

Não, eu deveria me livrar. Eu deveria te negar, deveria fechar a porta na sua cara, deveria nunca mais te ver. Deveria te odiar, com um ódio mortal. Devia sentir nojo, ojeriza. Mas eu não consigo.

Eu só consigo sentir amor. Eu sempre te recebo de braços abertos, eu sempre te quero por perto, não importa quantas despedidas já tivemos ou quantas vezes você tenha me dito que não mais ia voltar. Você nunca cumpriu, sempre voltou.

Ainda estou aqui. Sempre estarei. Te esperando, esperando que você volte. Mais uma vez para o nosso início. 


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