Eu não conseguia parar de
pensar no dia que havia cruzado com aqueles olhos ela última vez. Lembrava
daquele dia. Era uma manhã de julho. Eu esperava o ônibus naquela praça onde
costumávamos nos encontrar.
Em silêncio, represei todas
as palavras. Engoli as mágoas que queria vomitar. Agora estou regurgitando.
Pra que negar mais? Se até
as paredes sabem que nunca te esqueci. Se eu fosse escrever nossa história, ela
não caberia em livros. Nada que possa ser transcrito, nada que as palavras
saibam rimar. Elas estão suspensas no ar. Calar sobre nós seria como morrer. Por
isso eu grito, há direito ao grito. É preciso libertar o avesso, a metade, a
nossa não-história.
Não é só tristeza, é também
saudade. É lágrima não chorada, é pranto comedido, é amor mal amado, é o terror
nos olhos de quem fica.
Eu nunca te pedi mais que
amor. O amor profundo, o amor que salva.
Nunca te pedi mais que uns dias de sol, umas noites de chuva debaixo das
cobertas. Nada mais que sorrisos sinceros e um abraço apertado quando a dor é
maior.
Você nunca foi nada menos
que meu maior amor. Só por você eu quis ser mais, com quem eu quis ter todas
aquelas coisas para as quais nunca dei alguma importância. Quis juntar o teu passo ao meu, as tuas
pegadas as minhas, o nosso caminho poderia enfim existir, poderíamos ter uma
estrada só nossa.
Meu coração bate nesse
descompasso e a vida é menor quando você não está aqui. Me sinto como ainda
faltasse uma parte, que sei que não virá me completar. Afinal, você nunca veio,
não para ficar.
Sempre foi dessa maneira
incompleta e efêmera. Você sempre ia embora silenciosamente, sem olhar pra traz
e eu ficava na noite escura, esperado você voltar.
E você voltava, sempre
voltava. Mesmo que eu já estivesse me acostumando com sua ausência. Parece um
prazer consciente. Esse de me fazer sofrer. Parece que você gosta de me ver
assim, sozinha pelos cantos, chorando as lágrimas de toda a dor. Eu deveria me
acostumar.
Não, eu deveria me livrar. Eu
deveria te negar, deveria fechar a porta na sua cara, deveria nunca mais te
ver. Deveria te odiar, com um ódio mortal. Devia sentir nojo, ojeriza. Mas eu
não consigo.
Eu só consigo sentir amor. Eu
sempre te recebo de braços abertos, eu sempre te quero por perto, não importa
quantas despedidas já tivemos ou quantas vezes você tenha me dito que não mais
ia voltar. Você nunca cumpriu, sempre voltou.
Ainda estou aqui. Sempre estarei.
Te esperando, esperando que você volte. Mais uma vez para o nosso início.
Perfeito.
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