Numa tal universidade situada no fim do mundo, estava uma estudante discursando para os novos estudantes de Comunicação Social, ávidos por aulas e pelo novo mundo universitário que do lado de fora parece ser o paraíso.
" Caros calouros, sou uma caloura do 8º período. Muitos me perguntam como pode ser isso, digo-lhes que nesse tempo que passei aqui não tive um curso decente. Nunca me senti de fato inserida nesse tal ensino público superior. Por isso sou uma eterna caloura, mas sem o deslumbramento inicial, porém com o otimismo que tudo pode se ajeitar.
Nessa pequena cidade que chamamos de universidade federal o verbo 'comunicar' não existe. Faço comunicação, mas comunicar-me com as entidades superiores é o mesmo que nada. Fazem ouvido de mercador e promessas vagas que de que estarão resolvendo nosso problema, quando eles não se importam com nada. Já tem o salário garantido, seu emprego... E nós estudantes? Temos o que? Apenas o vislumbramento de um futuro que gostaríamos de protagonizar, mas que no fundo está um pouco distante de ser tornar real, não por falta de esforços pessoais, mas aqueles que deveriam ser os nossos representantes, aquelas autoridades que deveriam fazer o melhor por nós, na verdade "nunca sabem de nada", são cegos, surdos, mudos e hipócritas.
E vocês esperam o que da universidade? Desculpem-me, mas eu tenho que lhes desapontar... Nós não temos estrutura, laboratórios, professores e consequentemente aulas (o mínimo que uma instituição de ensino pode oferecer).
Mas vejam pelo lado bom... Vocês estão na Federal! Não é demais?
Vocês são a elite intelectual brasileira ou pelo menos futura elite, você possui status...
Vocês passaram na Federal, devem ser muito inteligentes, não é isso que papai, mamãe, vizinho, vovó, titia, conhecido, desconhecido dizem? E quando te perguntam qual o curso que você faz com aquela cara de "curiosidade"? E você dá um tapa na cara deles dizendo... Eu faço Jornalismo!
E todos eles se contraem numa cara de espanto por sua resposta não ser Direito ou Medicina.
Estar na UFAL já vale não é mesmo? Mesmo que você saia daqui sem saber nada, mas é formado pela federal. Já pensaram que moral?
E o assunto mais falado...O tal diploma. Todos fazem aquela cara de ódio quando lhe perguntam isso, eu também faço, é um assunto chato...
Diploma? Que diploma? Todos somos Jornalistas desde a maternidade! Qualquer um pode ser Jornalista, segundo os nada dignos ministros. E o que você está fazendo aqui? Já sei! É o tal amor pelo Jornalismo! Um amor incondicional! Quer dizer... que amor?
Como pode se sentir amor pela informação em um país desmemoriado? Como pode se sentir amor por formar consciências em um país que não lê, não se informa? Para que ser Jornalista nesse país onde as pessoas acreditam em tudo o que a Rede Globo manipula, sim, porque ela não informa, ela deforma.
E o pior! Ser Jornalista na província de Maceió. Onde os escassos meios de comunicação são controlados por políticos semi-analfabetos, ignorantes... Até um quadrúpede seria mais esperto que eles todos juntos e misturados.
Onde você vai trabalhar? Se você tiver QI (quem indique), tudo bem, você não morrerá de fome. Caso não, sinto muito... Você será apenas mais uma pessoa amante do Jornalismo. Salvo algumas excessões, não posso generalizar.
Calma! Eu não quero lhes desanimar, por mais que não pareça... Foi apenas um breve rompante de sinceridade e indignação pelo caos.
O que eu quero dizer é: Sejam todos bem-vindos! Lutem para ser "veteranos do 8º período" e claro, bons profissionais futuramente. É! Eu sei que a UFALida é desanimadora, longe demais, mas é a casa de vocês daqui para frente, por isso se quiserem ver uma universidade diferente, seja você a mudança que deseja.
Obrigada!"
Silêncio.
Ana querida, no começo ao ler o seu texto não de deu muito ânimo, não posso mentir, mas quando começa a declaração de estudando do 8º período, foi demais. Gostei, gostei e gostei. Foi real e comovente, pensei em tudo, refleti. Vamos lutar é isso o que posso dizer aqui.
ResponderExcluirParabéns, e não é média não, porque se fosse teria feito um comentário "fajunto", eu adorei o post, poxa cecil, ficou realmente bom.
Abraços.
Eu ia dizer que também me sentia calouro ainda na ufal, mas acabei percebendo que, até o vestibular do ano que vem, eu ainda sou calouro. É porque cada dia é uma coisa nova e diferente que acontece ali que, às vezes, parece que eu cheguei ali agora. Enfim, adorei o post. Mostrou bem o que a gente sente estudando ali. E é assim mesmo. Se não tem quem faça por nós, nós é que temos que correr atrás. Boa sorte pra gente nesses três anos e meio que ainda faltam (yn)
ResponderExcluirAssino embaixo, Cecill. Você conseguiu retratar o desânimo que é ser jornalista em Alagoas. Mas a gente não desiste, né? Incrível. Só pode ser amor. E otimismo.
ResponderExcluirFaço minhas suas palavras. Faço nossas, aliás... Dos estudantes de comunicação da UFAL.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCecill, nosso dia foi útil pra algo, hein? Um dia relativamente produtivo... pra vc! oeiueioeu Quem diria que um simples engano acabaria em um bom texto!^^ Tá de parabéns mocinha, e é por futuros profissionais e atuais alunos como vc que eu ainda sou otimista! (LLLL) Estamos aí na luta... "caminhando e cantando e seguindo a canção!"
ResponderExcluir:*
É...
ResponderExcluirDizer o que depois de uma dessa??
Haja amor à érea pra poder aguentar tanta indiferença da direção da Universidade.
Mas é como a guria do 8° período disse: "Pelo menos é federal".
Tá certo que não resolve o problema, mas, até certo ponto, serve de alento...
Ou não, se você for comparar com as outras federais do país...
É aquela velha história... se não lutarmos pra mudar, quem lutará por nós?
Adorei o texto, Cecil!!!
Aliás... o que é "fajunto"???
ResponderExcluirO texto expressou perfeitamente o sentimento que está rondando a cabeça de calouros e veteranos por lá, parabéns, Cecília! O blog está indo muito bem, exatamente a sua cara em cada palavra =P A senhortita é a melhor especialista na famosa "Arte de Falar Mal" e tenho certeza de que ainda vou ouvir muita coisa boa vindo de você até o fim dessa caminhada "num lugar chamado Ufal". O importante é não entregar a luta!
ResponderExcluirbeijos
Eita, explosão de sinceridade!!!
ResponderExcluirAdorei!
Realmente, o ensino superior, não só na federal, mas em geral aqui nessa buraco de agulha - Massayó - é uma decadência. Mesmo na faculdade ''partxiculhar'', onde estudo, é um fiasco. Professores inoperantes (adorei esse termo seu, Cecill), alunos que você nem sabe de que planeta vieram, ausência de senso crítico, falsidade, dificuldade de interação e comunicação, aulas medíocres cheias de textos e xérox borradas, pseudointelectualismo, o velho Dragão (retroprojetor) marcando presença, e BASTANTE barulho. Agora que a minha faculdade está em reforma, parece o Massacre da Serra Elétrica... na verdade a faculdade já caiu e esqueceram de avisar. Eita vida de estudante... estudante é pra se foder mesmo, tomando lindamente no cu na expectativa de um dia o inferno terminar, e o dinheiro entrar no bolso, e dessa forma a gente não engrossar ainda mais as estatísticas de miseráveis e desempregados.