A maioria dos meus dias tem sido
ruins, mas meus instantes de felicidade costumam valer por uma vida. Felicidade
que só senti quando vi seus olhos pela primeira vez, olhos da cor do mar e do
infinito céu. Eu não deveria ter visto, nem reconhecido em você alguém com quem
já vivi algumas vidas atrás, um velho amigo, ou quem sabe um amor.
Sabe, a distância tem
acabado comigo, eu não sei administrar esse vazio, essa abismo inevitável que
nos separa desde que eu parti. Eu sabia que ia ser assim, mas não tanto. Essa angústia
insatisfeita que só aplaca quando te vejo sorrir. Você diz que vai ficar tudo
bem, que as coisas vão se ajeitar, basta que eu tenha fé. Fé no amanhã. De que
fé é essa que você fala? A fé de que um dia vou te esquecer.
Você brilha como um sol e eu aqui no canto me encolho na cadeira e finjo
uma alegria que não sinto, um sorriso que só disfarça o quanto estou chorando
por dentro, se você me olhasse nos olhos veria. Mas eu não posso. Não posso
fazer nada em nome de uma compostura idiota, de um respeito, uma educação. Não posso
soltar o verbo e te pedir que venha comigo, eu não posso.
Já soaram as badaladas da
meia noite e você não está aqui, meu copo de vodca pura e minhas lembranças me
fazem companhia.
Quisera eu não lembrar. Foi assim,
como ver o mar... Lembra? Você costumava cantar pra mim e hoje você dedica a
ela. Não precisa mentir, é dela que você lembra sempre. Não precisa gastar seu
tempo tentando me convencer do contrário. Culpa minha, eu sei. Cultivar sentimentos
sem garantias é mesmo um ato suicida, mas eu aceitei morrer. Quem sabe eu
conseguisse renascer de uma forma mais bela.
Travo diálogos incessantes
com as paredes, elas também me chamam de covarde. É apenas uma versão nova de
uma velha história, uma espécie de mágoa revisitada. Te escrevo cartas que
nunca vou entregar, minhas lágrimas molham esse papel. É tarde, meu amor... Não
há mais jeito, você fez suas escolhas e eu infelizmente fiquei no canto. Eu não
tenho provas, nem desculpas, nem álibis ou testemunhas a meu favor. Estou tão
só que nem Deus está ao meu lado.
Eu te vejo correr, meu amor, enquanto eu permaneço nessa madrugada
insone e ébria, com o olhar parado e tomando minha vodca que começa a me
anestesiar me fazendo perder os sentidos. Melhor perdê-los do que viver a dor
de te ver partir ou sorrir longe de mim. Hoje as cortinas se fecharam, meu
amor, hoje eu morri.
Energia cósmica, dos
astrais, das estrelas, das supernovas.
Força e sutiliza.
Leve a vagar pelo céu
iluminado.
Quem sabe vinda de outras vidas.
Um encontro, um
frenesi de duas almas.
A felicidade azul, azul da cor do mar.
Azul como os seus
olhos, como as janelas da alma.
Olhos calmos que contemplam o mar.
São seus
olhos, dois céus e dois mares.
Infinitos. Eu mergulho e esqueço. De mim. (Ana Cecília)