quinta-feira, 21 de junho de 2012

Parece que foi ontem, parece que chovia...

Naquela noite chovia. Deitada na cama eu sabia que tudo se encaminhava para o fim. Eu construí um presente glorioso e um futuro que não mais me pertencia. A cada palavra, cada gesto, eu só sabia querer mais e mais o desconhecido. E eu apostava, dava tiros no escuro. Eu me jogava de cabeça naquele precipício. 

Eu tinha plena certeza de que se eu me jogasse, ele me seguraria. Mas hoje não. Hoje não sei  ao certo os pensamentos dele, tudo é uma névoa pairando sob meu olhar. Ele queria tanto quanto eu, mas hoje parece que o não-querer é recíproco. 

Eu sofri no dia seguinte... Ah! Os malditos dias seguintes, deixam a gente com aquela sensação de que fez tudo errado, que fez tudo rápido, que meteu os pés pelas mãos. É uma ressaca moral, pior que qualquer drink barato.

Olhos marejados e aquela vontade de chorar presa no peito, a densa sensação de querer aquilo que não está mais ao meu alcance. Aquela tristeza pela beleza ter se transformado em dor. O motivo que outrora justificava toda a minha insensatez, agora é pó. Nada mais que uma lembrança daquilo que eu gostaria de ter sido e não fui. Tudo o que eu gostaria de ter vivido, tudo o que a gente poderia ter sido...Se resumia ali, naquele instante, eu com a cabeça no travesseiro e o pensamento em você. Meus meses, dias e horas abreviados em apenas alguns segundos, os segundos finais, onde toda a minha loucura seria esquecida e eu seguiria minha vida como se nunca tivesse olhado aqueles olhos e muito menos beijado aquela boca. 


"Desde aquele dia, nada me sacia, minha vida está vazia, desde aquele dia/ Parece que foi ontem, parece que chovia/ Desde aquele dia, minhas noites são iguais, se eu não vou à luta, eu não tenho paz/ Não aguento mais, um dia mais, um dia menos são fatais (...) Eu só queria saber o que você foi fazer no meu caminho/ Eu não consigo entender, eu não consigo mais viver sozinho..."

segunda-feira, 11 de junho de 2012

É Clarice, é Neruda, é Augusto...

Dúvidas minhas. Certezas. Conselhos. Horas a frio. Dúvidas cruéis. Rancor. Orgulho. A sanidade ou a felicidade?

Clarice aberta na página 61 me diz: "Ria por não ter se lembrado de chorar..." - Rir para espantar o mau hábito de chorar, rir pra ninguém vir me encher o saco com consolos e palavras que eu já sei onde vão dar - lugar nenhum. Forjar uma felicidade que não existe, usar uma máscara. 

Uma xícara de café e Pablo Neruda: "Posso escrever os versos mais tristes esta noite...", não eu não poderia, eu não iria, eu vou te escrever. 

Tudo fora do lugar. Tudo incomum. Essa chuva. Essa noite. Me mandam ser forte e não derramar lágrimas.  A dor é interior. A dor é física. Minha cabeça gira. Minha cabeça dói. Nando Reis me diz: "Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava?".

Mando ele calar a boca e ele me rebate: "Dona dos meus olhos é você, avião no ar...". Desligo o som. Ouvir isso é querer tripudiar de mim mesma. 

Dor no corpo, na cabeça e na alma. Chá de camomila e calmante. Olheiras que ostento de minhas noites mal dormidas. Sorrisos que coloco no rosto quando quero na verdade chorar. Todos me dizem: Você deve estar bem, nem chora, nem nada... Ah, se eles perguntassem ao meu travesseiro. 

Mais uma xícara de café e Augusto dos Anjos me diz: "Acostumando-me à lama que me espera/ Eu sou um poço de "quem dera"/ A incerteza em seu lugar/ E a tristeza faz do coração morada/ A paixão desabrigada/ busca n'outro peito um lar..."

É Clarice. É Neruda. É Augusto. É café. É dor. É música. É mágoa. É Camelo cantando no meu ouvido: "Paz, eu quero paz (...) que não demora pra essa dor sangrar". Alguém avisa a ele que já sangrou? Tem mais jeito não. O estrago já tá feito e enquanto não arrumo um modo de calar meu peito: "Navegando eu vou sem paz,  sem ter um porto, quase morto sem um cais..."

Sem SMS. Ligação. Celular. Ninguém vai me ligar e trazer a boa nova de que tudo isso não passa de um pesadelo. É tudo real. Não adianta esperar que o impossível aconteça. Resta eu e minha dor. Companheira até o fim. Companheira até a morte. 






segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fora de mim, o silêncio. Dentro de mim, o caos

Sentimentos "Dom Casmurrianos" vieram à tona. Eu, como Bentinho, passo maus bocados ao pensar no que minha querida Capitulina fez. Éramos como um dia de sol azul e brilhante e nada era como seus cachos e sorrisos quando expostos aos raios solares. Eu sentia verdadeira adoração por aqueles olhos. Eu seria capaz de dar a minha vida por ela. Ela tinha me feito um homem menos sombrio. 

Foram tempos de verdadeira alegria sublime, tempos de amor e de glória. Tempos de eternidade. Só que minha querida Capitulina me magoou. Ela pouco fez do meu amor e procurou outro par. Ela esteve com Escobar... E eu de completo adorador, passei a rejeitá-la. 

Não queria mais aquele sorriso e aqueles olhos dissimulados. Eu sofri e ela bem sabe disso, sofri como um cão, ela sabe da minha propensão e entrega ilimitada à sentimentos sombrios. Ela sabe que sou triste. 

Uma noite, abri para ela todas as verdades, mágoas e desconfianças. Capitu me olhou como se eu fosse louco e disse da maneira mais linda que me amava e que jamais faria aquilo. Eu, paranóico que sou, não acreditei em uma palavra que saia daqueles lábios vermelhos. Eu sabia que se Capitulina quisesse, ela faria, eu sabia a mulher que tinha. Porém, a iminência da perda gera lágrimas e palavras que nem sequer podem existir. Eu não queria escutar, ela tinha estado com Escobar e isso me bastava.

Dias se passaram e o brilho da minha querida havia sumido. Ela não tentava me provar nada, falar nada, apenas mergulhou dentro de si mesma e lá ficou, sem lágrimas, nem choro, apenas com o olhar triste de que se perdeu em seu labirinto interior. Me trai na compaixão e como apaixonado e bobo, eu cedi aos seus encantos. Ela tinha conseguido me enredar mais uma vez.  Se tornou a melhor esposa do mundo, a mais dedicada, a mais atenciosa. E eu inerte sem saber se me entregava ou não àquelas demonstrações de afeto. O caos me consumia por dentro. 

Eu não ia matar Capitulina e muito menos me matar, mas penso que viver nessa amargura e desespero pode representar um tipo de morte.

Eu a deixei, não aguentei a dúvida cruel a guiar meus passos, não aguentei sequer olhar para aquela mulher feliz, enquanto eu anulado ao seu lado, convivia com suas vontades, seus caprichos. Eu, o homem que tudo perdoava.

Chegou uma hora que precisei ser forte, não me deixei levar por suas lágrimas e apelos, eu sempre me traio, deixo de lado minhas convicções, eu fraquejo diante de seus beijos. Mas hoje quero ser um homem só, ao lado de minhas verdades e convicções, minhas certezas e minha solidão.

Não, eu não tenho mais a minha querida Capitulina de olhos azuis e cabelos de anjo. Eu não tenho mais aquela que me deu a vida de volta e que agora trouxe a minha morte. 

domingo, 3 de junho de 2012

Epifania I - A busca pela felicidade


Segunda-feira de manhã, sono, lembranças do fim de semana e uma xícara de café.Estava na janela da copa olhando os carros passarem, enquanto duas mulheres entravam na sala. Elas conversavam a respeito de uma terceira pessoa, um certo homem que tinha casado pela quarta vez. A primeira falou:

- Ele casou pela quarta vez! Não sei como ele tem coragem! Ele só faz do casamento uma coisa qualquer. Não gosta mais, separa. Absurdo! – disse indignada.

- Mas se ele não tava feliz por que continuar com ela? – perguntou a segunda incrédula.

- A questão não é felicidade. Quando estamos com alguém, precisamos conviver com os defeitos dessa pessoa e suportá-los. Principalmente se dependemos da pessoa financeiramente.

- Não acho – disse a segunda exaltada. Eu passei 15 anos com um homem que me dava de tudo e eu não precisava trabalhar. Eu estava com ele porque ele era bom comigo e não porque gostava e no que deu? Em nada, o deixei.

- Eu não acredito em amor e sei que os homens têm suas vidas secretas. Não me importo se eu não ficar sabendo.

- Então você aceita tudo, só pelo fato de não ficar sabendo?

- Seria muita humilhação se me contassem, prefiro ficar assim, não quero que fiquem falando de mim.

- Você não acha que eles já estão falando da mesma forma? Com a diferença que você não sabe. Não seria pagar de idiota?

- O que os olhos não veem o coração não sente. Se o cara tá comigo é porque quer estar, se não já tinha ido embora atrás das outras. Ele pode ter outras, afinal homem nunca fica com uma mulher só mesmo, ilusão pensar que sim. Apenas não quero que isso estrague nossa família ou que nossos filhos fiquem sabendo.

- Muito triste pensar assim, desculpe, mas eu busco a minha felicidade acima de qualquer coisa e não aceito ficar com alguém nessas condições. Se não quer, não gosta, separa essa coisa de ficar se impondo sofrimento não é pra mim.

Silêncio. As duas parecem que finalmente notaram minha presença e a segunda perguntou:

- Você não concorda comigo? – perguntou a segunda.

- Ah! Ela é muito jovem pra saber dessas coisas – interrompeu a primeira.

Eu sorri e disse para a primeira:

- Eu não concordo com você, esse seu pensamento é de quem já desistiu de tudo e está apenas sobrevivendo.  Não, eu não entendo a mecânica do casamento, mas entendo de busca pela felicidade.

- Entende nada menina! Quando você for mãe de família, precisar pagar suas contas, você vai ver que aguentar um homem por quem não se é apaixonada vai ser o menor dos seus problemas. Aproveite, enquanto você é livre para fazer suas escolhas.

- Que eu saiba você também é livre para fazer as suas. Afinal o que te prende? Filhos? Dinheiro? O problema da maioria das pessoas é escolher aquilo que é mais cômodo pra elas, se negam a uma nova chance e colocam a culpa em várias coisas, por não ter coragem de assumir nada. Deixar de lado tudo aquilo que tem um lugar programado em sua vida. Eu sei, é complicado, longe de mim dizer o contrário, mas antes de dizer que a vida está ruim, pense antes no que você tá fazendo para mudá-la. Eu nunca iria querer viver infeliz se a felicidade estivesse me dando a mão e me chamando pra segui-la. E se você prestar atenção, ela já foi atrás de você diversas vezes e você fechou a porta na cara dela.

Silêncio, máquina de café e olhares tristes. Achei melhor eu sair logo dali antes que as coisas piorassem.