Clarice aberta na página 61 me diz: "Ria por não ter se lembrado de chorar..." - Rir para espantar o mau hábito de chorar, rir pra ninguém vir me encher o saco com consolos e palavras que eu já sei onde vão dar - lugar nenhum. Forjar uma felicidade que não existe, usar uma máscara.
Uma xícara de café e Pablo Neruda: "Posso escrever os versos mais tristes esta noite...", não eu não poderia, eu não iria, eu vou te escrever.
Tudo fora do lugar. Tudo incomum. Essa chuva. Essa noite. Me mandam ser forte e não derramar lágrimas. A dor é interior. A dor é física. Minha cabeça gira. Minha cabeça dói. Nando Reis me diz: "Será que eu sei que você é mesmo tudo aquilo que me faltava?".
Mando ele calar a boca e ele me rebate: "Dona dos meus olhos é você, avião no ar...". Desligo o som. Ouvir isso é querer tripudiar de mim mesma.
Dor no corpo, na cabeça e na alma. Chá de camomila e calmante. Olheiras que ostento de minhas noites mal dormidas. Sorrisos que coloco no rosto quando quero na verdade chorar. Todos me dizem: Você deve estar bem, nem chora, nem nada... Ah, se eles perguntassem ao meu travesseiro.
Mais uma xícara de café e Augusto dos Anjos me diz: "Acostumando-me à lama que me espera/ Eu sou um poço de "quem dera"/ A incerteza em seu lugar/ E a tristeza faz do coração morada/ A paixão desabrigada/ busca n'outro peito um lar..."
É Clarice. É Neruda. É Augusto. É café. É dor. É música. É mágoa. É Camelo cantando no meu ouvido: "Paz, eu quero paz (...) que não demora pra essa dor sangrar". Alguém avisa a ele que já sangrou? Tem mais jeito não. O estrago já tá feito e enquanto não arrumo um modo de calar meu peito: "Navegando eu vou sem paz, sem ter um porto, quase morto sem um cais..."
Sem SMS. Ligação. Celular. Ninguém vai me ligar e trazer a boa nova de que tudo isso não passa de um pesadelo. É tudo real. Não adianta esperar que o impossível aconteça. Resta eu e minha dor. Companheira até o fim. Companheira até a morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário